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O efeito Barbie e os impactos na autoestima da mulher preta

O filme da Barbie chegou aos cinemas, recheado de críticas sociais, no último dia 20. É dirigido por Greta Gerwig — atriz, diretora e roteirista conhecida por filmes feministas, como Lady Bird e Adoráveis Mulheres. O longa aborda temas como patriarcado, machismo, assédio e um breve recorte de raça e tem rendido críticas muito positivas.

Confesso que eu não queria estragar o momento cor de rosa tão fortalecido pela tendência #barbiecore Nada contra, inclusive. Entretanto, um post em uma rede social me fez refletir.

Trata-se de um carrossel de imagens da coleção ilimitada de Barbies, todas pretas, com as denominações “autônoma”, “nome no Serasa”, “em crise profissional”, “introvertida” e “terapia”. Na legenda “sou a barbie girl, se você quer ser meu namorado, fica ligado, presta atenção na minha condição (condição de coitada).” Passado o meu espanto, e eu fiz o seguinte comentário: Só eu achei problemático serem todas pretas? A página (famosa e voltada para “felicidade feminina em podcasts”, como se denomina) apagou o post imediatamente e o refizeram com um “casting mais diverso”. Com muita consideração, me enviaram uma direct message pedindo desculpas pelo ocorrido e informaram que republicaram.

Eu tenho senso de humor, de verdade. Mas, não foi possível achar graça.

O ponto aqui são os impactos na autoestima das mulheres pretas 30+. As mesmas que conviveram com a falta de condição financeira de ter uma boneca tão desejada na infância e lutaram, quase que a vida inteira, para se aproximar do seu padrão de beleza e lifestyle. Essas mesmas mulheres que hoje são autônomas ou buscam seu lugar ao sol no mundo corporativo e que eu auxilio, nas minhas aulas e mentorias, a recuperar a autoestima e a confiança para empreender.

Durante a pandemia, em um Masterclass que realizei para o Instituto das Pretas, voltado para mulheres pretas e declaradamente não brancas, apliquei uma dinâmica de autoestima com referências imagéticas dos anos 80 e 90. Barbies, capas de revistas femininas, bonecas, referências de moda e programas de TV.  Um cenário zero representatividade. Foi a primeira vez que ministrei essa atividade e os feedbacks me atravessam até hoje. A cada vez que aplico, mais depoimentos.

Todas as figuras femininas eram loiras, altas, muito magras, cabelos lisos. E nesse cenário, com essas referências crescemos. A publicidade repleta dessas imagens. Eu me lembro de trabalhar em uma agência de propaganda, em 2008, e não conseguir banco de imagens acessível com fotos de pessoas pretas. A justificativa quando eu questionava as empresas?  “Esse tipo de imagem não vende.”

A afirmação diária para nós era: você não possui a “beleza correta”. Ora, como olhar para nossos cabelos crespos, traços negroides ou indígenas, corpos reais e encontrar beleza? Mais do que isso: como encontrar valor em ser quem se é? Como encontrar em si mesma a autoestima necessária para romper padrões de subserviência? Como se considerar merecedora do sucesso, dos cargos em companhias, da cadeira de CEO?

Nessa mesma aula perguntei às alunas quando elas descobriram que são bonitas e uma delas, de 40 anos, me respondeu “aos 39 anos”.

O ano é 2023. Já tivemos avanços imagéticos de representatividade? Sim. Faço parte desse movimento, inclusive. Mas, na era da produção de conteúdo, da velocidade e do alcance da Internet é importante ampliar esse olhar para que a gente possa refletir sobre o real impacto do que colocamos no mundo.

A autoestima da mulher preta não é algo banal. É muitas vezes o combustível necessário para que uma cientista continue buscando a cura de uma doença. É o que impulsiona uma empresária a buscar um crédito para a sua empresa avançar e beneficiar centenas de famílias. É o que faz uma professora dar o seu melhor para formar seres humanos melhores.

Precisamos seguir avançando.

#autoestima #afroempreendedorismo #mulherempreendedora #autoconfianca #analimaconsultoradeimagem

Ana Lima

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